#16 Obras de Burle Marx: Residência Odette Monteiro

Próximo à divisa com Minas Gerais, na cidade de Correas, a fazenda de veraneio do casal Odette e Júlio Monteiro chamada de Marambaia foi um dos primeiros trabalhos de autoria de Roberto Burle Marx voltado para a região serrana do Rio de Janeiro. Esta área foi a escolhida para trabalhar porque segundo Burle Marx “Os terrenos maiores e menos caros davam melhores oportunidades aos arquitetos” oque acabou criando um movimento descentralizador ao repensar as condições de vida, colocando as casas maiores e interessantes fora da cidade.

O projeto do jardim que estamos falando foi indicado como um clássico de paisagismo moderno e contribuiu para a ampla divulgação e reconhecimento de seu trabalho pela crítica nacional e estrangeira. É importante ressaltarmos que as condições naturais do local eram de um vasto fundo de vale cercado pela Serra do Órgãos e com a forte presença de um rio. Neste jardim, Burle Marx teve uma grande autonomia criativa creditada por Odette Monteiro, onde foram criadas diversas modificações na topografia, como um grande platô que tem como objetivo o de assentar a casa-sede da fazenda, compondo com uma série de caminhos que permeiam pelo terreno de 50.000m², juntamente com algumas elevações também criadas e com o rio existente sendo desviado e, por fim, na parte mais baixa deste vale, foi inserido um lago.

A parte gráfica usada nas propostas feitas foi menos elaborada em comparação com outros projetos posteriores, entretanto isso está ligado à complexidade do trabalho realizado nas quais diversas decisões foram tomadas in loco. Aliás, Fernando Tábora (Arquiteto) descreve o método “Burle Marx de trabalhar” como algo interessante, pois ele decidia muitas coisas no próprio local onde iria realizar o projeto e que “tinha grande genialidade para captar os elementos dominantes de uma paisagem e reconstruí-los em croquis e desenhos esquemáticos e múltiplas copias feitas na prancheta. Daí surgia o conceito que ele, muitas vezes com grande maestria, solucionava na obra (...) diretamente no local, improvisando com uma visão de conjunto extraordinária, principalmente se gostava de algum lugar.” Portanto, o jardim elaborado para Odette Monteiro é um grande exemplo deste processo, este que é claramente acentuado com a ideia de um jardim de função contemplativa pois em nenhuma proposta não há nenhuma alusão à qualquer equipamento de lazer, devido à grande beleza da Serra dos Órgãos.

Burle Marx organizava seu raciocínio definindo uma ordem claramente artificial e que se sobrepõe à natural, de uma certa forma ele fazia uma releitura da natureza com um toque artisticamente criado, ou seja, tratava-se não de reproduzir a natureza exatamente como ela é mas sim de interferir nessa relação com oque é natural pela inclusão do jardim, criando no conjunto geral uma outra paisagem.

Segundo Gilles Clément, “a peculiaridade de Burle Marx está justamente nessa atração que sente pela concepção inteiramente gráfica. Isso implica um trabalho de organização dos maciços de plantas, fazendo com que os contrapontos entre massas e áreas de cor, volumes e texturas associados à legibilidade de sua estrutura se destaquem sobre o entorno natural.” Justamente nesse jardim que estamos falando, nota-se a prevalência do uso da vegetação como superfície, enfatizando os contrastes entre as cores e as texturas, principalmente com o uso de plantas herbáceas.

Uma grande característica do trabalho de Burle Marx era o grande controle pelo material utilizado, criando uma situação onde os maciços de plantas, com flores ou folhagem vistosa se destaquem sobre uma paisagem de fundo seja de gramado ou seja uma floresta sem configurar manchas muito amplas, assim, os olharem sempre recaem para essas manchas que fazem com que sejam espaços autônomos, além disso tudo é feito uma tensão entre as colorações, formas e volumes, dando personalidade ao local sem perder de vista seu conjunto.